ALERP
ALERP
- Ilmo. Sr. Vice-Presidente desta Academia de Letras da Região de Picos, Acadêmico Vilebaldo Nogueira Rocha, presidindo esta Solenidade, representando o Presidente e Acadêmico Francisco das Chagas de Sousa que funcionou como Cerimonial;
- Meus Confrades Acadêmicos e Acadêmicas desta Academia de Letras;
- Exmas. Autoridades Políticas, Administrativas, Militares e Eclesiásticas aqui presentes;
- Querida Família Luz aqui presente nesta noite;
- Minhas Senhoras e meus Senhores.
Em um relance de olhar atento, podemos observar quantas alegrias e felicidades estão a transbordar nos semblantes das pessoas que se encontram presentes aqui e agora, nesta noite festiva e memorável, para comemoramos, todos, este momento histórico na cultura da nossa cidade de Picos-PI.
Estamos a receber nesta solenidade mais um membro da Academia de Letras da Região de Picos, o novel Acadêmico Médico José Alves da Luz que passa a integrar essa plêiade de Escritores, tomando posse na Cadeira Nº 31 que tem como Patronesse a Escritora Maria de Jesus de Souza Martins.
A cidade de Picos sempre contou com movimentos educacionais e culturais de suma importância em sua história em múltiplas áreas, como a educacional, a cultural, artes plásticas, cantores e compositores, no teatro, na sétima arte (cinema), pois são tantos os escritores e artistas filhos de Picos e circunvizinhanças. Com tudo isso só poderia resultar em uma organização máxima que congregasse todos e deixasse registrado no píncaro da história todas essas figuras humanas de imaginação criativa que permanecerão na memória para sempre em toda a região, por intermédio da produção literária e artística que fica para as gerações futuras.
Depois de muitas iniciativas para melhor cuidar da cultura, da literatura e da arte em geral, foram criados o Grupo Mutirão de Literatura, Arte e Cultura e o Clube Cultural “Fontes Ibiapina”, resultando, ao final, na
fundação da Academia de Letras da Região de Picos (ALERP) no dia 22 de abril de 1989, unificando a cultura da microrregião de Picos, tendo sido sua primeira Presidente a nossa querida Rosa de Lima Araújo Luz, ocupando a Cadeira Nº 01, hoje muito doente e nem sequer teve condições de estar presente aqui nesta noite.
Depois surgiu, em 29 de julho de 1999, a União Picoense de Escritores – UPE, que foi idealizada pelo poeta Luís Edio Leal Costa que, juntamente com outros poetas, tinham como objetivo a materialização em livros de toda a produção literária de seus membros e escritores estreantes, contribuindo para o desenvolvimento cultural do Piauí.
Senhoras e Senhores, atentai bem!
Às vezes em nossas vidas, uma certa dificuldade ou até mesmo a doença contribui em muito para que possamos tomar novos rumos na vida em busca de horizontes mais promissores. Temos o caso de José Alves da Luz, o José da Luz, que nasceu no Baixio das Abóboras, município de Sussuapara-PI e cresceu trabalhando na roça, ajudando aos pais nos labores rurais, como quase sempre era o destino dos jovens da sua época. Poderia ser hoje um trabalhador rural, no máximo proprietário de uma gleba de terras e aposentado pelo INSS, ganhando o salário mínimo. Aos 17 anos, José da Luz foi acometido de tuberculose, doença recorrente entre as pessoas do seu tempo de jovem. Bastante doente, foi levado para Teresina no início de 1953, onde se internou no Sanatório de Tuberculose de Teresina, um anexo do Hospital Getúlio Vargas, especializado em tratamento desse tipo de doença. Enquanto os Médicos iam cuidando da sua saúde, fazendo o tratamento da tuberculose, José da Luz foi descoberto pela Freira Irmã Teresa que ficou absorta ao saber que ele ainda era analfabeto aos 18 anos! Então, passou a ensinar-lhe as primeiras letras e logo José da Luz foi alfabetizado, aprendendo a ler e escrever dos 18 aos 20 anos, enquanto esteve internado no Sanatório de Tuberculose, com facilidade e demonstrando grande interesse pelos estudos, já despontando sua inteligência.
Já curado, ao voltar de Teresina para Picos, em fevereiro de 1955, passou a frequentar o Cursinho preparatório para Admissão ao Ginásio do Professor Antônio de Barros Araújo por seis meses e no final do ano fez as provas para o Exame de Admissão e conseguiu aprovação da primeira vez, obtendo o primeiro lugar com brilhantismo entre os aprovados.
O Ginásio de Picos, já funcionando na Rua Monsenhor Hipólito, no turno da tarde, alcançou grande melhoria na qualidade de ensino a partir de 1956, sob a nova direção do Dr. José de Deus Barros (o conhecido Dr. José Li), que imprimiu uma orientação rigorosa na exigência da aplicação das disciplinas curriculares, continuando depois com a direção do Padre David Ângelo Leal em 1957, obtendo grande reconhecimento pelo elevado nível de
ensino refletido nos resultados obtidos pelos alunos em comparação com os níveis de ensino alcançados em outros Estabelecimentos Ginasiais do Estado do Piauí.
Foi no primeiro Ano do Ginásio, em 1956, que vim a conhecer José da Luz, tendo eu vindo do lugar Gentio, deste município, onde estudei apenas em escolas com professores particulares, não havendo feito o Primário formal, fazendo em Picos apenas o Cursinho por dois meses para o Exame de Admissão ao Ginásio e fui aprovado também na primeira época.
Esse Primeiro Ano do Ginásio em 1956 contava com um número elevado de alunos, em torno de uns 120 alunos, então foi dividido em duas turmas, ficando os mais velhos em uma turma e os mais novos em outra turma.
Diante do rigor imposto pelo Dr. José Li sobre a aplicação das disciplinas, da nossa turma dos mais velhos, passamos direto apenas 18 alunos, muito menos da metade, ficando os outros para segunda época quando passaram mais alguns e outros ficaram reprovados, repetindo o ano.
O José da Luz, Francisco Caminha Aguiar, Adão Benvindo da Luz, Dionísio de Sousa e Rosa Leal eram os primeiros alunos da turma, passando com notas bem altas, e eu consegui passar em um dos últimos lugares entre esses 18 aprovados de primeira época. Então, fui para as férias de final de ano no Gentio e lá passei a refletir que essa situação não deveria perdurar, pois eu estudando com dificuldades, quase ficava reprovado e me espelhei nos colegas que se destacavam nos primeiros lugares. Senti um “estalo”, igualmente ao que sentiu o Padre Antônio Vieira que tinha dificuldades em aprender e então fez uma prece fervorosa em uma Igreja de Salvador, pedindo a Deus que lhe desse inteligência, sentindo um “estalo” na cabeça e a partir daí tudo que estudava aprendia, tornando-se um grande sábio e um dos maiores oradores da sua época. Eu voltei para o 2º Ano do Ginásio em 1957 com o propósito firme de quando o professor desse uma lição eu já a havia estudado antes e aproveitava para tirar as dúvidas a respeito. No final do ano, fui aprovado em 2º lugar da turma e no 3º ano do Ginásio tirei o 1º lugar com média final de 9,3, fazendo 80 provas anuais e tirando 52 notas 10 e a partir de aí nunca mais deixei os primeiros lugares em todos os meus estudos. Fiquei conhecido em todo o Ginásio e até passaram a me chamar de “filósofo” pelos colegas, pelos professores e pelo Diretor Padre David Ângelo Leal. Tudo isso para declarar oficialmente hoje que foi me espelhando nos exemplos de bons alunos, dedicados e estudiosos, como José da Luz, Caminha Aguiar, Adão Benvindo, Dionísio de Sousa e Rosa Leal, que eram dos primeiros lugares no Ginásio de Picos, que alcancei essa proeza.
Enquanto esteve em Picos, José da Luz procurou conciliar a todo
custo e com muita tenacidade os estudos com o trabalho de Vendedor Ambulante, saindo pelas cidades e povoados vizinhos, nos dias de feiras públicas, vendendo alguns produtos, em busca de angariar algum dinheiro para a sua própria subsistência.
Terminado o Ginásio, no início de 1960, José da Luz viajou de “pau-de-arara” com destino ao Rio de Janeiro, levando nove dias de viagem em estrada, na sua maioria, sem asfalto ainda, naquela poeira horrível.
No Rio, onde chegou sem conhecer ninguém, conseguiu trabalhar inicialmente em uma Companhia de Aviação e Navegação e depois no Banco da Lavoura de Minas Gerais, aproveitando o tempo para estudar à noite escondido, sem o Banco saber, pois poderia ser demitido por estar estudando.
Fez o Curso Científico e depois o Vestibular, escolhendo logo Medicina e foi aprovado na Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, procurando a todo custo conciliar o trabalho e os estudos e com muitas lutas e sacrifícios conseguiu se formar em 1969. Depois já fez Especializações em Radiologia e Diagnóstico por Imagem e outros cursos de pós-graduação nos anos seguintes de 1970 e 1971. Logo ao se formar, já se casou em 1970 com Aura Gibara Bordallo da Luz, do Rio de Janeiro, com instrução superior em Educação Artística e em 1972 foram para Ourinhos-SP, onde se estabeleceu com Clínica de Radiologia e Diagnóstico por Imagem, passando a esposa a ser sócia e administradora do Centro de Diagnóstico por Imagem. Tiveram três filhos: Tereza Bordallo da Luz, Benjamin Bordallo da Luz e Samara Bordallo da Luz, todos formados.
O destino muitas vezes traça bons rumos para a pessoa humana! José da Luz que escapou ainda jovem da morte nas mãos de Médicos que curaram a sua terrível doença. Então, ao buscar um curso superior para a sua profissão futura escolheu logo o Curso de Medicina, essa ciência que se tornou uma disciplina independente, o que levou ao surgimento da profissão de Médico, tudo se devendo aos estudos e dedicação do Médico grego Hipócrates em cuidar realmente da saúde das pessoas, salvar vidas e por isso mesmo recebeu a honraria para a história como sendo o Pai da Medicina. Hipócrates deixou muitas descrições clínicas que possibilitam o diagnóstico de muitas doenças, como a malária, caxumba, pneumonia e inclusive a tuberculose.
José Alves da Luz tem dedicado toda sua vida profissional em tempo integral a cuidar da saúde das pessoas, em fazer tudo para salvar vidas, tendo sido o seu mister permanente até hoje. Nesse percurso profissional tem exercido várias funções. Presidente da Associação Paulista de Medicina Regional de Ourinhos por 20 anos, havendo construído a sede
social; Delegado da Associação Médica Brasileira por São Paulo; Diretor Distrital da Associação Médica; Sócio Fundador e Presidente da UNIMED de Ourinhos; Conselheiro tanto do Conselho de Administração como do Conselho Fiscal da Federação das UNIMEDES no estado de São Paulo; Presidente da SOPRAMI – Sociedade de Proteção à Maternidade e Infância, por 10 anos, conseguindo a utilidade pública federal para a mesma em 1982; Chefe do Serviço de Diagnóstico por Imagem e depois Diretor Clínico do Hospital Santa Casa de Ourinhos; Participou sempre de Congressos e Jornadas de Radiologia no Brasil e no Exterior; Criador e Proprietário do Instituto de Radiologia e Ultrassom – Dr. José da Luz – Um Centro de Diagnóstico por Imagem com RX, Ultrassom, Tomografia Computadorizada, Densitometria Óssea, Mamografia.
José da Luz teve uma vida de muitas dificuldades para vencer na vida, não só de saúde, mas também de condições financeiras, trabalhando e estudando até conseguir se formar em Medicina, o que demonstra a sua disposição firme de lutar e finalmente vencer, chegando ao seu ideal. Diante dessas agruras todas, resolveu documentar esse seu caminhar, escrevendo sobre toda essa sua trajetória de muitas lutas e sacrifícios, documentando em livros para que sirvam de lições e incentivos a tantos quantos possam se achar nessa situação. Assim escreveu seu primeiro livro: “Zé da Luz e Suas Histórias – O Impossível é Apenas Difícil”, que foi publicado e teve grande aceitação do público, pelo tema abordado, recebendo tantos louvores até no exterior. Dentro desse objetivo de apresentar o seu caminhar, lutar e vencer na vida escreveu outro livro: “Zé da Luz e Outras Histórias – Do Baixio das Abóboras para o Mundo” que foi também publicado, recebendo grande reconhecimento do público pelo seu conteúdo, com histórias que documentam o caminhar firme de um vencedor. Está escrevendo um terceiro livro ainda sem título, esperando concluir o mais breve possível, pois todos os seus leitores estão ansiosos para ver essa nova obra da sua lavra, naturalmente, cheia de exemplos e ensinamentos para todos.
Nesses seus livros, encontramos passagens antológicas de exemplos na sua vida de lutas para vencer as tantas dificuldades que se lhe apresentaram no decorrer do tempo. São passagens tão preciosas, recheadas de tantos encantamentos e assim seriam motivos grandiosos para resultarem até em filmes empolgantes como ensinamentos dignos para todos nós do seu exemplo de um Vencedor, verdadeiro efeito demonstração para todas as pessoas humanas.
Diante da repercussão das histórias contadas em seu primeiro livro, inclusive no exterior, José da Luz foi convidado de honra por uma Diretora de ONG da Suíça como Médico e Escritor para lançar o seu livro no III Concurso Literário de Contos e Poesias a ser realizado em maio de 2005 em Genebra na Suíça. O convite já tinha sido enviado pelo Correio com a programação dia 26 de maio em Genebra, dia 28 em Berna (Capital) e dia 30
em Zurique com palestras seguidas de autógrafos. Ainda argumentou que não era escritor, havia escrito aquele livro contando a sua luta pela vida. A Diretora da ONG lhe respondeu que a Comissão Organizadora do Evento tinha analisado o seu livro e catalogado como um “Manual de Sobrevivência do Migrante em qualquer Parte do Mundo”. E assim acabou indo a Suíça. José da Luz deu uma entrevista ao jornalista Renato de Souza gravada nos estúdios da ONU em Genebra. Esse Jornalista fez matéria “De Picos no Piauí às Nações Unidas – Genebra”, publicada na Revista Real em 2005, muito lida pelos migrantes na Suíça, Suécia, Bélgica, Reino Unido, Portugal, Itália e outros países.
José da Luz recebeu o título de Cidadão Ourinhense em 2007 e de Honra ao Mérito pela Sociedade Piauiense de Radiologia em Teresina-PI, recebido na Jornada Norte e Nordeste de Radiologia em 2008. Foi Homenageado Especial pelo Colégio Brasileiro de Radiologia em Brasília, 2013.
Senhoras e Senhores; Diletos Confrades.
É esse cidadão aí que está a adentrar hoje os umbrais da nossa Academia de Letras da Região de Picos com toda essa história imensurável e que tenho todo o prazer de apresenta-lo aos nossos Distintos Confrades e a todas as pessoas aqui presentes nesta noite festiva e faço com todo o galanteio merecido a nossa saudação sincera de boas-vindas ao Dr. José Alves da Luz em nome de todos os nossos companheiros de Academia e que possa se sentir à vontade com toda a nossa consideração, admiração e carinho por sua pessoa, pois o recebemos de braços abertos e os corações pulsando de entusiasmo por agora contarmos com mais um Acadêmico no nosso viver cotidiano, entrando para a história e para a imortalidade. Por favor, Sr. Acadêmico José da Luz, fique de pé, para conhecimento e saudação dos presentes nesta noite. Palmas!
Ao recebemos hoje o novel Acadêmico José da Luz, a nossa Academia de Letras da Região de Picos alarga os seus horizontes literários, indo de encontro com a diversidade cultural da nossa comunidade picoense, mais uma modalidade literária na arte do escrever para o acervo do nosso conhecimento.
Já preconizava muito bem o filósofo Platão, fundador da primeira Academia na antiga Grécia, berço da civilização ocidental: “Toda vez que surge um novo Acadêmico a humanidade inteira fica mais enriquecida culturalmente”!
Mesmo vivendo há anos em São Paulo, José da Luz tem uma alma telúrica dentro de si, porque ele nunca saiu de Picos-PI, pois está sempre preso à nossa terra e à nossa gente, vindo por aqui continuamente.
Você, nobre Acadêmico José da Luz, que diz não mais ter tido a oportunidade de encontrar aquela Freira Irmã Teresa que o alfabetizou no Sanatório de Tuberculose em Teresina, hoje pode agradecer sinceramente à mesma, inclinando a sua cabeça e colocando a sua mão do peito, pois ela está presente aqui entre nós, aí mesmo ao seu lado, em lugar especial, a prestigiar a sua posse nesta Academia de Letras da Região de Picos.
Só para os que têm condições de ver, através do espírito, da alma, possam agora voltar os olhos atentamente para o alto e ver aquele púlpito lá nos céus e enxergar a figura da bendita Freira Irmã Teresa que abriu os olhos do conhecimento para José da Luz e hoje está a assistir ali mesmo próxima a ele o bem que fez a esse cidadão que hoje chega com brilhantismo na Academia de Letras da Região de Picos.
Esteja certo meu nobre Acadêmico José da Luz que o seu nome está registrado na imortalidade, não só por seu ingresso em nossa Academia de Letras da Região de Picos, mas também por suas histórias publicadas em seus livros, amplamente aceitas pelo público em geral, uma história de vida de lutas e muitos sacrifícios, construída com tanto esforço, determinação e dignidade, competência e altruísmo, inteligência e simplicidade, à altura de um grande vencedor e que serve como exemplo para todos nós humanos.
Conclamo ainda nobre Acadêmico José da Luz que ame muito esta nossa Academia de Letras da Região de Picos e dedique a ela todo o tempo possível de sua vida, com o mesmo esforço, com a mesma determinação e com sua fulgurante inteligência que são características do seu viver, contribuindo com as suas ideias, com o seu labor literário, deixando frutos preciosos para as gerações futuras.
O meu agradecimento sincero pela atenção e um abraço a todos os presentes.
Tenho dito.
Picos-Piauí, 16 de agosto de 2016
Francisco Teotônio da Luz Neto - Acadêmico
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